A praia como perfeita metáfora da vida.

Por do Sol
Passamos os dias à procura do melhor ângulo para mirar as coisas, a revezar artigos da internet que nos ensinem a viver momentos que ainda são novos para nós e acabamos a fugir do que é inevitável:
vivermos por nós!

Portanto, a praia é a metáfora perfeita da vida:
quando procurarmos o melhor ângulo para olhar as coisas, lembremo-nos que ele é quase sempre de frente. E se puder ter o sol e o mar nesse ângulo, com um jarro de sangria ao lado, que se celebre.

A vida vive-se de frente e o amor pelo mar celebra-se de frente para ele. A deixar o sol beijá-lo, como nós queremos beijar a vida. Mesmo quando nos escondemos dela, em procura de melhores soluções, para o que nós tememos não ter resposta. O incerto!

Parabéns, Mãe!

Parabéns, MãeDecidi trazer a minha mãe para a internet. Nem ela nem o meu pai aderem a estas modas do facebook, ou mesmo das tecnologias. Podemos chamá-los de desactualizados, retrógradas, desinformados, que tudo isso pode ser verdade, mas não é nada disso que me importa.

Nenhum deles tirou um curo superior, nenhum deles teve uma vida com o glamour que merecia, todavia, sempre me entregaram tudo numa bandeja. Até bem tarde, nunca percebi tantas das dificuldades que atravessaram, tantos dos desertos que me transformaram em praia. Eu olhava, é certo, mas via apenas o mar. Eles é que sentiam a areia, rochosa, a espezinhar-lhe os pés, enquanto me levavam num colo caloroso. Estendiam-me a toalha, para eu não sentir como a areia fervia; punham-me atrás o para-vento, para eu não notar como as nortadas afligem. Faziam tudo para que eu não me magoasse, para que não percebesse que o vento nem sempre sopra a nosso favor. Para alguns, isso será errado. Para mim, em parte, também o é. Hoje sei que eles deviam ter vivido ainda mais, que não se deviam ter privado de tantas coisas para mim, porque eles mereciam, merecem e vão merecer sempre uma vida incrível. São pais. São as pessoas que mais amo no mundo.

Sentimos a carência de quem nos faça bater o coração com o ruído dum mar agitado, mas acabamos sempre a dar um abraço sentido aos nossos pais. São eles que nos suportam na ausência doutros, como botes para dias em que marés desencadeiam naufrágios. Mas também são eles que nos fazem mover quando amamos, quando vivemos, quando nos libertamos. Querem sempre o melhor para nós. E a minha mãe, em especial, é exímia nessa arte de me ver como o mais especial do mundo. Tento avisá-la que não, que num instante lhe posso mencionar quatro ou cinco pessoas mais especiais que eu. Mas ela diz-me que não, defende-me no indefensável e depois ataca-me no impensável. Os elogios estão guardados para quando não os mereço e as palavras de desafio para quando mereço os elogios. Vê os problemas onde eu, inebriado pelo fulgor dalgum sucesso ocasional, não os estou a detectar. E depois, nas horas que sei que não tenho defesa – e ela também sabe – guarda-me palavras que me memorem do bom que já fiz. Já chorei muitas vezes com ela. Já chorei muitas vezes com o meu pai. E já chorei muitas vezes com ambos. Em todos os casos, foram choros diferentes. Mas nunca nenhum me doeu tanto como quando senti que os estava a desiludir.

Andei perdido na escola, estive quase para não ir para universidade nenhuma, nem sequer acabar o secundário. Eles atacavam-me, mas doías-lhes mais do que a mim. No dia que o percebi, soube que tudo faria para que eles nunca mais o sentissem. Não o consigo sempre, às vezes resvalos nas pequenas dunas da tentação e perco o rumo da praia que eles esperam, e eu também espero, me esteja sempre guardada. Desde aí, sou demasiado exigente comigo. A maioria dos que me rodeia não o compreende, vê em mim um miúdo que tem sonhos, sim, mas que vive embalado na leveza de uma onda que o traz ao areal. Mas eu, por essa sensação que percebi tarde e pela vontade de ter sempre o que não tenho, ando a maior parte do tempo no revolto das maresias que chocam nos rochedos do paredão. Ando sempre à luta comigo, com os pensamentos que não domino, porque sou dono de uma insatisfação que não consigo explicar. Tenho os receios de perder a base que me suporta, de ter que exigir mais dela, quando já tanto me deram, quem sabe demasiado. Mas, ao mesmo tempo, apetece-me saltar do cimo do paredão para um mergulho longo, sem rumo, que talvez me leve até aquela linha do horizonte que os meus pais sempre me desenharam ao fundo daquele mar que eu via em miúdo – e tantas vezes não ia existia.

Tenho uma sensação de frustração constante, pela necessidade de mais que a minha mãe me passou, mesmo que na maioria das vezes não se apercebesse que o fazia. A vida não é uma praia fácil de encontrar, quase todos ficam no primeiro descampado com mar que lhes aparece. Mas a minha mãe, mais em gestos que em palavras, sempre me disse para não me satisfazer com a primeira praia, para ir atrás da segunda, porque, possivelmente, será melhor. Quase todos estão na primeira apenas por preguiça de procurar uma melhor. Se aqui está bem, não vejo motivo para procurar melhor, pensam eles. No entanto, trouxe também da minha mãe a hesitação. Parados na primeira praia, com um sítio livre, mesmo à nossa frente, também criamos amarras se não estaremos a perder um bom lugar. Eu sou assim, a minha mãe também é assim. A indecisão pesa em nós como a merenda de uma família num domingo de praia. Mas hoje, no dia dela, quero agradecer-lhe por tudo isso. Vivo num carrossel de expectativas e quase sempre salto para a segunda praia. Demoro o meu tempo, dou um passo e pondero, paro mais um pouco, e volto a seguir. Até que chego à segunda praia e penso que a terceira será ainda mais incrível. Avanço mais um pouco e recuo mais um pouco. Será boa ideia? Se calhar essa já será deserta, e a solidão assusta. Então, estanco de novo. Mas volto a andar e encontro a terceira. E depois quero a quarta. Invento uma quinta que já não existe e ando sempre insatisfeito. A minha mãe é isto, uma insatisfação constante que não consegue explicar, uma hesitação castradora e um impulso incontrolável nas palavras. E eu sou isso, também. Devo-o a ela. A ela e ao meu pai, que se completam. Mas hoje o dia é dela e quero dar-lhe os parabéns, nesta internet que ela não frequenta, para que todos saibam: amo-a. Trago na minha genética as incongruências dela, a insanidade de querer mais, quando às vezes estamos bem onde estamos, a incapacidade de estar calado em relação ao que sinto, a vontade incontrolável de, mesmo expondo-me, deixar que todos habitem o meu mundo e percebam o que eu sinto. É óbvio que nunca perceberão, mas é satisfatória a sensação de que nada temos a esconder. A consciência é o nosso nome do meio e a insatisfação o apelido de família. Mas sou feliz, à minha maneira, sou feliz. Porque tenho, tal como vocês todos, a melhor mãe e o melhor pai do mundo. E hoje celebro-o, na pessoa da minha mãe. A mulher a quem posso dar os parabéns, prendas, beijos, abraços, apoio, mas nunca poderei dar o que ela me deu. Uma vida! Obrigado e parabéns, Mãe!

 

Chuva molha-tolos

2013-10-13 11.01.09

 

Veio do cimo do céu uma chuva
Que a manhã brilhante não previa.
Vem turva, pouca certa da sua vontade,
Caindo a espaços nesta praia de areia ruiva.

Nos moldes do mundo, a chuva é invernal,
Feita de papel de jornal,
Trabalhada como um mal
Que nos prende numa rotina do habitual.

Olho-a aqui, mesmo ao meu lado,
Neste bar todo envidraçado,
Que me regaça nas suas vitrinas, me aperta no seu conforto,
E me deixa as gotas baterem à distância de um palmo.

Penso que vou fazer caminho para casa,
Que me vou deixar de estar de computador aberto
Nestas mesas simpáticas e conversadoras,
Que me encheram de ideias,
Enquanto a minha princesa se trabalha.

Sim, penso que vou.
Chegou-se-me a hora de abalar,
De sair de rompante por entre a chuva que não me molha,
Que dizem os antigos, é miudinha, só molha-tolos.

Ral

http://www.bubok.pt/livros/6257/Realidades

Um país de nómadas

nomadas, verão, inverno, pessoas

O Verão inunda as estâncias de pessoas, coloca-as vagamente perdidas, no meio de multidões sedentas de tudo o que nove meses não oferecem. Desligamento, apartamento das responsabilidades e melancolias.

O Inverno pervaga-se como a sentença do pensamento, como a cogitação absoluta do antes e do depois, do agora e do a seguir. A chuva no estore serve para pensar em tudo; a impossibilidade de sentar na esplanada apraz a falta de alegria. Não é bonito ser muito alegre no Inverno, pois destoa da taciturnidade dominante.

No Verão parece mal é estar triste. Anima-te, é Verão! Vais estar com essa cara com o sol que está lá fora? Anda-te embora para a praia!

As cidades de praia abarrotam-se de gente e perguntam-se como existem pessoas que aguentam viver nesta fase longe da praia. As cidades escondidas são desertas, estão longe do mar e não fazem sentido no Verão. No Inverno, a Nazaré passa das 80 mil pessoas que habitam a zona de praia, para as 8 mil que lá ficam no ano todo. O Algarve não sei números, mas assusta e fica desprovido de alma e indivíduos. É uma zona de Verão, exclusivamente de Verão. O inglês desaparece, o espanhol é fugidio e o francês deixa de existir.

Como nos chamam um país de sedentários? No Verão é praia, no Inverno é longe da praia. Vivemos de mochila às costas!

Ral
http://www.bubok.pt/livros/6257/Realidades

Cruzada de Verão

praia, verão, abertura, mar, mergulhoPauto caminho e desço encostas. Olho e vejo o azul a bater no amarelo, não desisto. Continuo o caminho, passo após passo. Ajeito as havainas. Elas eram brancas, viraram acastanhadas, do parque caído entre árvores. A pedra é forte, robusta, declina-se sobre os guarda-sóis e esconde um bar de palha, com três mesas plásticas e muitos refrescos. Os senhores do balcão falam com pronúncia. Dizem os sins e os nãos com outro sonido, não é nada nortenho. Peço o café do costume. É de manhã e não resisto sem ele. Ainda na banca de madeira, feita com palha de adorno, acendo o cigarro e contemplo as pessoas a mergulharem, a criarem um ruído silencioso de mar pacífico. O sol escalda e a t-shirt já saltou, está presa na beira dos calções. Já com o cigarro perto do final, caminho pela areia, já de havaianas descalçadas.

– Vens, amor? – Pergunto eu.

Sorri-me e diz que já vai. Eu sorrio-lhe de volta e aguardo. Eu sei que irá e que irei beijá-la. Entretanto, a areia humedeceu, ficou mais enrijecida e eu sorrio com isso. Sabe bem e já refresca. Sem pensar muito, ou em nada, olho a imensidão onde se plantam barcos. Dou mais dois passos e já me bate pelo joelho. Mais dois e já está acima da cintura. Um mais e mergulho. Assim, está aberto o meu Verão!

Para encomenda de livros, sem portes: ricardoalopes.lopes@gmail.com
Para compra directa: http://www.bubok.pt/livros/6257/Realidades

Atraso

praia, verão, atraso, inverno, escuroEstava a ir, a caminhar,

O rumo não era certo, nem incerto, era o que era.

E eu ia. Ia sempre.

Ao longo das travessas verdes de um jardim sem fim,

Que se cruzava no estrelar do céu, com o amarelo das plantas.

Caminhava e caminhava,

Escondendo o cigarro numa mão e a ponta acesa do telemóvel na outra.

Sabia que chegaria na hora, na hora exacta

Não queria perder um segundo que fosse.

Quando rompi pelas entradas do canavial, já se avistava um azul que eu procurava

Era cristalino, mas estava baço, não se percebia a sua imensidão

Planava sobre ele um véu escuro, que eu ansiava que desaparecesse

Olhei para cima e ignorei o telemóvel,

O contacto teria que ser com os divos. Onde estás?, perguntei eu

E ele não respondeu. Continuou sem responder.

Imaginei que fosse um jogo que me despertasse o prazer oblíquo da espera

A insânia de uma maior aguarda pelo que tanto desejamos.

Mas, pouco tempo bastou, para perceber que ainda não era daquela.

O preto da noite saiu e o cinzento do Inverno ficou.

E pronto, mais um verão que se atrasou.

Para encomenda de livros, sem portes: ricardoalopes.lopes@gmail.com

Para compra directa: http://www.bubok.pt/livros/6257/Realidades

No escritório, com vista para a praia!

praia, verão, saudades, mergulhoHoje, olho e avisto a praia. Estou fechado no escritório, com fugas fugazes ao jardim, para um cigarro e um café, os meus vícios malfeitos, mas somente vejo praia.

Dos meus olhos transborda um areal imenso, pleno de amarelos que se coadunam com o azul do mar. Está pouca gente, uma, duas, quem sabe três toalhas, estendidas sem ordem numa praia que me aguarda. As pessoas estão sozinhas. Não é dia de praia para as famílias, somente os felizardos da cronologia de férias, que se abisparam neste dia de sol bom. Um, creio que vai trabalhar à tarde, aproveitou somente as horas da manhã e tira fotos com o telemóvel. Talvez para postar no facebook e fazer inveja, quem sabe para enviar à namorada e dizer que gostava que ela lá estivesse. Outro está a dormir, a sentir o sol a abraçar-se no corpo dele, enquanto a respiração fica mais morna, numa questão de tempo até saltar o primeiro ronco. Uma senhora, perto dos quarenta, parece-me, abre uma revista e começa a desfolhá-la. Na capa está um casal que findou a relação, julgo que ele é actor e ela modelo, ou vice-versa.

Agora, vi uma bola a saltitar. É um menino, muito engraçado e pequenino, a correr atrás da bola que o pai arremessou. Assim é bom crescer e ser feliz. O pai também está feliz. Pousei a minha toalha, com primor descalcei as havaianas e atirei a t-shirt para o aconchego do pára-vento. Senti, leve, uma brisa a bater-me, mas nem me ralei. Caminhei, paulatino e de mão dada, para me atirar no primeiro mergulho do ano. Senti um gélido prazeroso, assim que os meus dedos tocaram a areia molhada. Do mar, chega uma respiração diferente, um orbe de sensações boas. Sinto-me no Verão e a gozar uma manhã de sonho.

Embalei-me em passadas certeiras, para saltar num mergulho gaiteiro, e…. tocou o telemóvel! Tenho um e-mail para responder e pessoas a chamarem-me no escritório do lado. Mas a minha cabeça ainda está no mar, no sol que me pede que me despeça de tudo e me entregue a esta maior paixão que é o Verão! Sentia saudades dele.

Para encomenda de livros, sem portes: ricardoalopes.lopes@gmail.com

Para compra directa: http://www.bubok.pt/livros/6257/Realidades

Férias grandes

Chegava ali a meados de Junho e misturava-se a alegria com a preocupação. O sol, desde menino, sempre despontou em mim alegria, fúria de viver, por outro lado o saber que ia estar três meses longe dos amigos, dos jogos de futebol atolados de pessoas, assustava-me. Ficava preocupado de verdade. Como podia eu aguentar tanto?

Aguentava com os meus primos, em casa da minha avó. Um era mais novo, ainda é aliás, o outro mais velho. Eu, como ficava no meio, obedecia mais de um lado, esticava-me mais do outro.  A lei da vida. Entre jogos de futebol, basket, apanhada ou escondidas, já aparecia alguma de coisa de computadores, e eu ia-me mantendo divertido. Muito divertido, diga-se. Depois vinham as férias com os meus pais, a praia que já começava a magnetizar-me. Ops, lá estava a escola outra vez.

Depois, já adolescente, perdia-se a parte da preocupação. Os telemóveis, as idas de bicicleta à praia, o arriscar de uns cafezitos e até umas saídas à noite, davam-me a certeza que o contacto não se perdia. Aumentava, afinal. Foi por esta altura, com os meus 16 anos, 17 talvez, que fui de férias a primeira vez com eles. Mochila às costas, comboio e lá vamos nós.

Com a chegada da faculdade, as férias nem sempre eram tão grandes, volta e meia lá vinham uns exames a atrasar. Porém, a carta, e o carro, faziam daqueles meses o despontar de um ano mais liberto. Ganhava energias em cada noitada, em cada dia inteiro de praia.

Faz uns anos que chegou o trabalho, o emprego, chamar férias grandes é um atrevimento. Contudo, a noção disso mesmo faz-nos aproveitar melhor a cronologia da vida, os horários apertados. Cada segundinho almeja tornar-se um balão de oxigénio.

Como estas duas horinhas de praia ontem…

Estamos a horas do verão

Falta pouquinho, quando passarem nove minutos da meia-noite estaremos na estação do éden. Estaremos no papel, pois no céu falta-lhe cor. Qual cumprir calendário.

Estou farto de olhar para cima, feito tolo, sempre à espera que o éter me mostre o azul vivo, que Junho anuncia, Julho confirma, Agosto realça e Setembro despede. Era atestar a trivialidade da minha vida, dizer que vivo para o Verão, todavia a verdade é essa. Não vivo só no Verão, mas vivo, essencialmente, para o Verão. É um facto, que posso eu fazer?

Aquela sensação do saltar da areia para os pés, do gélido da água a entranhar-se no corpo quente do sol, da toalha sempre encorrilhada, das bolas coloridas a saltarem, dos guarda-sóis a ornamentarem a praia, dos corpos desnudos, das peles reluzentes amaciadas pelo astro-rei, das crianças a gritarem a inocência da idade, de tudo o que alegra os dias mais longos do ano.

E caipirinhas? De camisa, calções e havaianas, com a noite quente, a esplanada na areia, a lua a iluminar e o pessoal a curtir? Sem palavras. Aliás, como não há para os finos ou refrescos, de fim de tarde, com a namorada e os amigos. Ainda se lembram de como é sair do trabalho, ou das aulas, e ir directos a uma esplanada, que vos mimoseia com conforto e ilumina com o pôr-do-sol? As gargalhadas, ou sorrisos traquinas e alegres, são sem dúvida a melodia dessas horas.

Esqueçam a chuva que agora começou a cair… amanhã é Verão!

Por falar em Verão, se puderem passar em https://www.facebook.com/SamsonitePT/app_198028816891495 e fazer gosto no roteiro: “Ricardo Lopes – Barcelona, a fuga perfeita”, eu agradecia bastante : )