Ai se eu acordasse melhor

nascer do dia, amanhecer, acordar, emprego, café, leitura jornais e revistasDesde cedo que, com pena minha, mantenho um problema ao acordar. Sofro de desmaios na hora de cair na cama, prego-me a um sono que nem terramotos e vira-ventos despertam.

Durante todo o meu período escolar, essencialmente do secundário ao superior, fui um péssimo exemplo, com poucas presenças notadas nas aulas vespertinas. O relógio sempre teimou em tocar sem me alarmar, com verdadeira veemência. E, portanto, quando me arraiava dos lençóis, duas ou três horas já se tinham ido, reforçando que não o digo com orgulho, talvez com resignação. Chegada a fase do trabalho, durante meses continuei a ter problemas de pontualidade matinais, que felizmente foram supridos aos poucos, de um jeito muito paulatino. Sendo que hoje praticamente não me atraso, mas mantenho uma correria matinal que em muito me revolta. Chego com um fulgor de mau-humor, completamente assarapantado e incapaz de gerir imprevistos. Venho vivo, com os olhos ainda a falecer pelo rosto.

No entanto, hoje, depois de uma noite bem dormida no regaço do amor, tive que abispar-me mais cedo. Desci pelas encostas de estrada, ainda com a hora de pegar ao serviço longe. Desemboquei num café bem perto da empresa, com a chávena na mesa, um jornal pousado, uma revista aberta e o livro Três Vidas, do João Tordo, na alçada. Enquanto tomava o café folheei a revista das cusquices, vi as moças do jet-7 a discutir com os moços das novelas; depois, com o cigarro a fumegar, li as notícias do meu Benfica e galguei as outras na diagonal; ainda com meia hora para aproveitar, viajei pelas linhas do brilhante João Tordo.

Quando saí do café, o nevoeiro tinha sido substituído por uns raios de sol, as minhas lamúrias de acordar atordoado tinham sido trocados por sorrisos e apetites de fazer algo de útil. Ai se eu acordasse melhor todos os dias!

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Acordar ao sabor do tempo

acordar, despertador, corpo pesado, cansado, fériasHoje, o sol ergueu-se, fez-se companhia destes últimos resquícios de ano. Está imponente e majestoso, pronto a guiar-nos por um dia mais. Por um dia que se quer feliz. Um bem-haja para ele.

Ontem, tive de volta amigos idos, amigos da emigração. Regressaram todos, estavam todos na mesma mesa, ao mesmo tempo. Uma noite ou tarde de café normal, vestiu-se agora de especial, pela ausência notada deles. Pelas esporádicas visitas, mas nunca em conjunto. Foi fácil perpetuarmos uma noite trivial pela madrugada, com palavras e brincadeiras, com políticas e diferenças culturais, com psicologias e filosofias. Foi um serão de amizade.

Chegada a manhã, veio-me nova constatação: férias! Férias são para andar a curtir todo doidivanas, a aproveitar sem limites, sempre com programas definidos, com a namorada de mão acarinhada, ou os amigos em organizações esporádicas. No entanto, férias traduz-se, também, em acordar sem despertador. Decifra-se em ser o tempo que define o espertar. E eu acordei assim, sem imposições do despertador, sem controlo dos ponteiros. Acordei sem a necessidade rígida de voltar a cair-me para o lado. Acordei ao sabor do tempo.

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Do Algarve ao escritório, ou vice-versa

Como estava boa a ilha de Tavira, gostei muito daquele peixinho assado, o sol abriu para um dos melhores dias de praia deste verão, agora já tenho um bronze decente, sabem mesmo bem estes dias no Algarve.

Parece ser obrigatório, para quem tem um blogue, por esta altura, fazer posts sobre o Algarve. Já vi descrições lindíssimas, de sítios que suponho que sejam também lindíssimos, já fiquei com apetite de peixe só pelos detalhes da degustação e também fiquei invejoso, muito!

Espero ainda por lá passar, no entanto não por agora. Por isso tentarei descrever também o meu dia, na busca de vos cativar a ter um trabalho, quando parece que todos estão de férias. Ora aqui vai:

Passava pouco das 7h45 da manhã, quando o meu telemóvel, qual galo, cantou a minha alvorada. Desconfiado como sou, resolvi virar-me para o lado, aconchegando a cabeça na almofada e esticando as pernas com força, para imobilizá-las ali, ali mesmo na minha cama. Não demorou cinco minutos para o tal telemóvel, o despertador moderno, lembrar-me que aquele toque não tinha sido um sonho mau. Não houve remédio, fui à janela, abri a persiana e deixei o sol inundar o meu quarto. Aproveitei para dar um bom dia ao meu cão, que me parece sempre que nunca dorme.

Já só a casa de banho era opção, com aquele ruído da água a cair a lembrar-me que estava a chegar a hora de mais um dia. E chegou, claro. Banho tomado, chacras alinhados e ali ia eu para o meu cafézinho matinal. Nem torradas, nem peças de fruta, só um bocadinho de leite com o café e lá vou eu.

O portão abriu a mostrar-me o caminho, já não havia volta. Primeira, segunda, terceira, quarta, quinta e prego a fundo. As mudanças com a metáfora da semana, fosse a minha caixa de velocidades de 6 e até chegar aos 100 km/h já tinha a minha semana resumida. Segui caminho, com o sol a iluminar-me a estrada, com o vento a soprar-me palavras de incentivo e com o espelho a mostrar-me o que ficava para trás.

Café, claro, escritório, computador a ligar e cá estou. Mais uma semana.

Espero ter-vos deixado com tanta vontade de trabalhar, como os posts dos outros me deixam com ânsia de Algarve.

Uma boa semana para todos, amigos.

PS – Já sabem que para saber mais sobre o livro que, em princípio, irei lançar, é só passarem aqui: https://www.facebook.com/groups/118634761614210/

Amar-te num pedaço de céu

Vivemos num pedaço de céu, não o céu de todos, o céu que nós criamos, aquele que é só nosso. Que fomos gerando a cada sorriso, caricia, troca de palavras, partilha de histórias e/ou loucuras. Aquele que é só nosso.

Olho-te, como um louco olha as suas alucinações; vejo-te, como um adolescente vê o seu desejo; toco-te, como um invisual toca a sua visão; imagino-te, como um sonhador imagina o seu futuro; respeito-te, como uma criança respeita o seu medo; amo-te, como um apaixonado ama a sua paixão.

Como podemos descrever este pedacinho enublado de uma matéria intangível que nos suporta no ar? Nuvem? Céu? Não sei, porque tenho que saber? Sou livre, estamos livres. Estamos a levitar. Sou leve a teu lado, és leve a meu lado.

– Amo-te.

Eu também te amo, também me emaranho no dia-a-dia, também subo a minha felicidade à velocidade do teu sorriso, também deixo o peso do meu corpo cair à velocidade do zumbido da tua tristeza, ao som do teu silêncio.

– Preciso-te.

E eu preciso de ti, preciso do teu sorriso, preciso do teu chamamento, do teu toque. Do Éden do teu olhar, da viagem do teu toque, da adrenalina das tuas palavras. Preciso de a cada dia ser feliz, de me tornar mais feliz. Um dia não precisei de ti, tu não precisaste de mim, mas hoje, hoje é diferente, hoje temos um pedaço de céu.

– Gosto de gostar de ti.

Gosto que gostes de mim. Não me defino pelo que sou, pelo que és, defino-me pelo que somos. Partilha é fusão, por mais antagónica que a frase se torne. Um dia fundi-me a ti, para partilhar contigo. Para tornar o inconcebível exequível.

– Algum dia isto terá um fim?

Só direi não. Porque não quero, porque não sei. O não domina, o não é incerto até quando fazemos dele uma certeza. Não sei, não quero. Não penso nisso, não quero pensar nisso.

Estou a viajar: parti do teu olhar, virei na curva do teu sorriso, deslizei pelo ondulado do teu cabelo, toquei o rumo da tua pele, abasteci no doce do teu perfume, acelerei nos contornos do teu corpo e… não tem fim! És uma viagem sem fim. És a aventura de uma vida.

– Já disse que te amo?

Não precisas. Eu vejo-o no teu sorriso, no teu olhar brilhante, nas tuas palavras doces, no teu toque ternurento, mas diz. Eu quero que digas, afinal também preciso que o digas.

– Amo-te.

Como eu te amo a ti. Nunca desças deste pedaço de nada, desta nuvem branca de matéria de intangível, deste cantinho de céu que é nosso. O futuro vem com o amanhã, mas nem ele pode apagar este pedaço de céu que é nosso. Que construímos, que conquistamos. É bom amar-te num pedaço de céu.

PRRRIIIMMMMM 

– Não acredito, já são 8h da manhã !!

“Quando acordas e estás mortinho por te voltar a deitar!”

Foi-me lançado este desafio. Alguém desesperado pela sobrecarga de trabalho, pelo pouco descanso. Não esperava escreve-lo hoje, mas escrevo. Para vos contar a história de um rapaz que conheço.

Falo de um rapaz com cerca de 1,80m, com os seus vinte e qualquer coisa anos, cabelo escuro, já com alguns tons de grisalho, olhos castanhos arregalados, bem delineados por uma olheira de quem desvaloriza as horas de sono, rosto ligeiramente pigmentado, mascarado por uma barba sem desfazer, talvez de uns 4 ou 5 dias, que dá uma imagem de modernidade, aliada ao desleixo propositado. Lindo de morrer… diz ele!

Bem, decidi aceitar o desafio lançado, ajustado a este rapaz. Isto porque ele hoje acordou, cerca das 8h, com um despertador que lançava, ruidosamente, Marcelo D2. Por curiosidade, a música era «Á procura da batida perfeita», que bem se encaixa no dia dele. Seguiu num passo ligeiramente acelerado, respondendo à velocidade com que os segundos de manhã se movem, para a sua higiene matinal. Daqui nada mais a acrescentar, por motivos óbvios. Seguiu-se uma apressada, mas controlada, viagem de carro, sensivelmente 10 minutos para percorrer uns 25 kms, e aqui começou o desejo de voltar à cama. Enquanto o carro seguia a velocidade, nem exagerada, nem correcta, digamos que considerável, o seu pensamento teimava em ficar para trás. Não existia forma de arrastá-lo para uma secretária, ele teimava em puxar, com a mão direita, o lençol até à zona do pescoço, rodopiar ligeiramente o seu corpo para a esquerda, ficando completamente de lado, com toda a sua zona lateral esquerda a suportar de forma, estupidamente, comoda o seu corpo na cama. Tudo isto enquanto as pernas se moviam ligeiramente para cima, criando o que habitualmente se chama de conchinha ou cadeirinha, mas desta feita sozinho. Esta posição, o lençol e mantas até ao pescoço devolviam-lhe o conforto, o quentinho da cama, que aquele maldito despertador queria tirar.

– Tás a dormir ou quê? Vira, palhaço!!

Eis que um indivíduo de identidade desconhecida – sobre ele sabe-se apenas que conduzia um Seat Ibiza branco, que tinha cabelo escuro e usava óculos de sol – o acorda para a consternadora realidade que estava a chegar ao emprego.

– Desculpa lá, oh artista! – Exclamou ele, como uma necessidade de lhe responder e até desculpar-se. Mas mantendo sempre um tom, ligeiramente, depreciativo para não se amedrontar e mostrar soberania. «Eu é que sou!» – vangloriava-se ele!

Após dirigir-se ao escritório, cumprir religiosamente a sua rotina: ligar o computador; organizar a papelada para o dia; tomar um cafezinho;  Ainda pairava aquele arrepio, aquela lembrança bem presente: «A esta hora eu estou bem é na caminha!». Como em outras paragens já tinha exclamado um dos nossos atletas olímpicos.

Entretanto começaram a chegar os e-mails, a desdobrar-se para mais uma chamada e a sua cama foi-se diluindo nos seus pensamentos, agora virados para o trabalho. Porém, na hora de almoço, depois de “tachar” e sentar-se a tomar um cafezinho, esta história poderá ter mais capítulos. No entanto, isso já não vos contarei.

Boa sexta-feira para todos.