As derrotas nas vitórias

Derrotas nas vitórias

A vida é feita de desafios, uns a seguir aos outros. É isso, na verdade, que faz com que a vida seja vivida.

Não é fácil viver tudo isso, somos atordoados pelas vitórias estoicas e arrombados pelas derrotas concludentes. De qual delas devemos tirar melhores lições? Na generalidade dos casos, dizem-nos que na hora da derrota, no mergulho no poço, é quando melhor nos analisamos. E isso é verdade, tão verdade, mas na vitória também há lições.

Raras são as vezes em que pensamos o que nos leva, verdadeiramente, a conquistar as coisas, o que realmente nos faz diferentes e, normalmente, é essa incapacidade de analisar o sucesso que nos leva ao insucesso. Ficamos inebriados, pensamos que ninguém é mais forte e justo vencedor que nós e achamos que aqueles momentos se prolongarão para toda a vida, porque somos óptimos, somos capazes e até somos esforçados. Mas perdemos os detalhes.

E nesses detalhes, nessa incapacidade de perceber o que nos moveu até ali, o que nos fez sentir tão bem por conquistar tudo aquilo, esquecemo-nos de quem somos. Achamos que conseguimos tudo, porque merecemos tudo. E, ao contrário do que as sensações indicam, estamos apenas a fragilizar-nos. A deixar de estar disponíveis para errar e aprender.

Quando a abundância de elogios diminui, quando o êxtase de vitória se esvai, damos por nós a procurar repetir tudo o que anteriormente fizemos. E aí reside o nosso erro. Deixamos de fazer as coisas por nós, deixamos de ser nós mesmos, e tornamo-nos egoístas à procura de tudo o que possa atingir os outros. Laboramos para os outros, mas somos egoístas. Somos egoístas porque nada nos chega, nada nos volta a fazer sentir aquela essência das vitórias anteriores e tornamo-nos frustrados e demasiado exigentes com os outros, sem nunca nos culparmos a nós. Achamos que só eles nos podem levar aonde já estivemos, na altura por mérito. Esquecemos tudo. Esquecemos quem somos, o que nos moveu, o que nos fez chegar até lá e perdemos o rumo.

A vitória deve ser mais analisada que a derrota. A derrota ensina-nos à força, a vitória ensina-nos a melhorar. E eu gosto de melhorar.

Caminhar

DSCF7437

O mundo não se decide num sopro de iluminismo. Compreende-se na vivência, no arrojo e no erro. Erra e não te perdoes, melhora, cresce, faz acontecer. Desistir só é o caminho possível quando já não há caminho, rumo nem saída. Quando há negro escuro como o fim.

O fim só não é o começo quando acaba, mas só acaba quando é mesmo o fim. Todos os outros finais são o trilho de novos começos. Um novo eu, um novo rumo, um novo melhoramento, um mais conciso conhecimento. Eu conheço-me mal. Vivo comigo há vinte e seis anos e conheço mal, mas como quero viver comigo mais uns cinquenta, sessenta ou setenta anos não me parece mal. A morte é a desistência, não é o finar do corpo. E eu não desisto. Caminho.