Venezuela – A beleza natural que está escondida no terror

Venezuela

                                                                           Isla Coche

Dá para imaginar a beleza deste sítio?

Pois, mas a natural está subvertida à das pessoas sem escrúpulos. É verdade que o daesh nos rouba a atenção de tudo quanto é macabro, tenebroso, mas o tipo de terrorismo destas pessoas que mudam as leis para se manter no poder, eliminando a concorrência e silenciando a população com fome e tiros de polícia militar, que vai de miúdos de 12 e 13 anos até homens de 60, que não têm, igualmente, escolha também é assustador.

Nunca visitei a Venezuela, mas tenho um lado da família oriundo de lá (inclusive a minha mãe) pelo que me custa horrores ver um país destruir-se às mãos de um inculto. Porque este Maduro é a prova de que a ignorância é, e será sempre, das armas mais perigosas. Apenas podendo ser equiparada à inteligência, no caso do Chavez, que foi quem com um rumo muito bem definido e pensado permitiu que este homem aqui chegasse.

Ele era inteligente, assustadoramente inteligente, como são todos os grandes ditadores, por isso escolheu como braço direito um mero executante. Que agora, no poder, não consegue perceber qual era o rumo que o Chavez queria, apenas se lembra que se contrariam é para silenciar. E assim se silencia um povo. Porque os disparos, as armas, podem fazer muito barulho, mas o terror e a destruição trazem sempre um silêncio ensurdecedor. É pena. Um país lindo de pessoas lindas.

A chuva venezuelana

protestos na venezuela

Com esta chuva a bater nos estores da minha hora de almoço, tal-qual um sonido de uma música de Sixto Rodriguez, findo a pensar na reportagem de ontem.
Tenho família na Venezuela, a minha mãe e um dos meus tios nasceram lá, os dois tios que lá se encontram para lá partiram cedo, quando os meus avós decidiram que lá estaria a aura feliz deles. Um deles, o avô, já partiu. A minha avó está cá faz muito tempo, sempre recordando o sol dourado de Caracas, que escondia as milícias que na década de setenta e oitenta cresceram. A minha mãe, muitas vezes, contou-me que chegaram a cortar pulsos para roubar relógios. É uma imagem estratosférica, muito além do quotidiano que cá imaginamos. Mas, ontem, com a violência esclarecedora da reportagem da SIC, pude perceber que não será exagero.

O Maduro é pior do que o Chávez. Ambos são ditadores, mas um, ao menos, tinha um rumo. Este não tem, é a ponta fraca de uma ditadura que já vinha caindo. Vence nos quase cinco milhões de votos electrónicos, obviamente falseados. Enquanto por cá, neste lado do mundo, o dito moderno, vive-se na sombra de um FMI, que foi o primeiro passo para o nascimento daquele regime socialista, tão castrador como um fascista. Aliás, quando se fala de regimes, de ditaduras, chega-me a fazer confusão a distinção do fascismo para o socialismo ou comunismo. É como definir um assassino como passional ou serial-killer. As motivações são distintas, é certo, mas os finais, tragicamente, são sempre iguais.

A chuva continua a bater, incessante. Incomoda-me que em Junho chova tanto, é suficiente para me arreliar. Mas depois, caramba, penso naquela jovem desempregada que gritava que é preciso acabar com o regime, o jovem baleado nos testículos que esperam que recupere para o eliminarem, as manifestações desmontadas a tiro por milícias e fico danado comigo. Tenho lá família. Sem esperanças de saída, sem esperanças de futuro, sem esperanças de nada. O que fariam? Regressariam, deixariam tudo o que construíram e amealharam para trás, para vir para um país em crise?

E é nisso que a Europa dos ricos, a do FMI, não pensa ao fechar os olhos ao que por lá se passa, a fim de receber os barris de crude mais baratos. Deixem o circo continuar e, com tal, começam a chegar emigrantes de uma vida, com uma mão à frente e outra atrás, para caírem em países já sufocados nas medidas de austeridade. O mundo é grande, é certo, mas bem mais pequeno do que estas políticas estão a ser capazes de alcançar. O El Dourado do Brasil também já se está a esgotar, o de Angola não se fala, Moçambique voltou às guerras, a França está a caminhar para a Extrema-Direita e a Grécia é o que se vê.

Não prestem atenção, que a chuva continua a cair. E, um dia, será em dilúvio.

Um pequeno grito venezuelano

 

CANCILLER DE VENEZUELA NICOLAS MADURONão se mudou tudo, mudou-se pouco. Deu-se aso à continuidade, porém com ligeiras diferenças. A força de Chavez diluiu-se no seu sucessor. Nem o passarinho e as ameaças de feitiços o fizeram ser unânime.

O pequeno grito surge pela estreita diferença de votação, entre o chavismo e a oposição. Caprilles, o líder da oposição, que já nas anteriores eleições aumentou a popularidade, fez Maduro suar, suar a bom suar. Ele, inclusive, ainda está pouco convencido dos totais, que se dizem irrevogáveis. Afirma, pelo Twitter, que só aceitará esta votação depois de toda a recontagem dos votos. Recontagem que, a bem da verdade, tenho algumas dúvidas que venha a suceder. Não obstante de tudo isto, desde que há memória do aparecimento rompante de Chavez, até ao seu desaparecimento, que jamais se pensou em tão renhida luta. Sinal, óbvio, que o povo começa a gritar a sua opinião, sem tantos receios. Foram ameaçados com feitiços e sodomizados com passarinhos faladores, com a voz do Chavez, a lembrar as fábulas dos tempos idos, e nem assim se ficaram. Gritaram, quase ao confim do histórico.

Para além de tudo isto, diz-se que Maduro é mais brando que o Chavez, mais aberto a diálogos. É fã do Hindu, tocou numa banda rock, admitindo a sua admiração por Mick Jagger, e conduziu autocarros até 1992, quando conheceu a sua mulher, Cila Flores, na altura defendendo a saída da prisão de Chavez. Desde aí, virou-se para a política e tornou-se o melhor amigo do líder bolivariano, agora defunto.

Se continuará a política de Chavez? Acredito que sim, todavia cada pessoa é uma pessoa. Pessoas são diferentes. Assim, veremos qual a diferença que o pautará. Mais brando? Mais tecnocrata? Não há como saber, o tempo, todo sábio, acabará por nos responder a isso. Até lá, prevemos que os venezuelanos começam a ganhar voz. Já não são pássaros mudos, também chilreiem. Também começam a dar pequenos gritos.

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