É DIA APENAS PARA ALGUNS

O relógio marcava 8h da manhã, quando ele, jovem e irreverente, se levantou para mais uma jornada, um dia, de trabalho, espera-se de conquista. O pensamento estava dominado pela certeza da maioria do país gozar o seu feriado, se encontrar na acolhedora fase de trocar de posição, soltar o leve suspiro do pensamento: fim-de-semana!

Ele próprio soltava o suspiro de quem passou dois dias em retiro forçado, de descanso teve pouco, pelas dores que o dominavam, pela certeza que não é em casa que gosta de estar. Ergueu-se, bocejou, fez com que os seus braços alongassem consideravelmente a amplitude do seu corpo, espreguiçou-se. Cara lavada, torrada e cafezinho, computador em baixo do braço, medicação tomada e siga.

A viagem de carro matinal, por entre uma auto-estrada deserta, desperta o pensamento que não é o dia de todos, é dia apenas para alguns. Oh bendito ócio. Não se deixou amedrontar pela certeza da estrada vazia, pelas expedições do subconsciente, pelas reminiscências dos demais deitados, cobertos, acolhidos num dia que mostra o sol atrás das nuvens, do chão molhado e do frio que obriga a gola a colar-se ao queixo. Seguiu o itinerário, ouviu músicas aleatórias, sem sentido nem guião, fumou o seu cigarro e desembarcou para mais um dia.

– Bom dia. Como estás?

Mostravam preocupação pelo que foram os dois últimos dias dele, estavam dormentes nas suas cadeiras, com sorrisos embebecidos de sono nos seus fatos de trabalho, olhos distantes da euforia nos seus curtos passos em direcção a ele, de veemente tinham apenas a imagem que este é um dia apenas para alguns.

Tristes? Desanimados? Certamente que não, apenas sonolentos de um ambiente que estranhamente mostra, segundo seguido de segundo, que o dia não é normal, existe algo de diferente nele. É um dia que não é para todos, é dia apenas para alguns.

Amanha de manhã, não é para todos, é apenas para alguns. Ele será um deles. Triste? Não, afortunado! Trabalho é o oposto da doença.

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