O mundo desnorteado

criança, áfrica, mundo, desnorteado, fome, mal, maldade, erradoNão sei avaliar crises ao nível da política, gerir emoções no patamar das conjunturas sociais, ou alarmar-me com faltas de valores à distância desconhecida. Vivo num mundo pequeno, comparado com o mundo grande, o de todos.

Todas as certezas que tenho passam, inevitavelmente, pelas incertezas que alimento. Sou fruto de tudo o que chega até mim, que chega através de um filtro enorme, como um longo de tubo de canalizações onde se separa o trigo do joio, a fruta do legume. Eu sei o que me deixam saber, o que me deixam disponível para saber. Não sei como é viver em África, na fundura do calor abrasador, das terras de saibro, mas sei que não é fácil porque assim me dizem. Com imagens esporádicas, com textos que revoltam, com frases que angustiam. Meninos revestidos a uma pele mais fina que uma folha de papel vegetal tem que magoar, ferir os sentidos na hora de olhar.

Os valores distorcem-se à velocidade dos escândalos aparecidos pelas notícias da net, pelos destaques da televisão, pelos reforços dos jornais e revistas. É uma escandaleira constante, umas pessoas incapazes de compreender o limbo do bem para o mal, o fio de separação do certo para o errado. É confrangedor, chega-me a deixar envergonhado de coisas que não faço, ridicularizo de saber que pessoas o fazem. A desculpa de sermos humanos cola, mas somente até ao ponto que nem todos os humanos são iguais. Eu não mataria num momento de fúria, pelo que me conheço. Referindo que me conheço como mais ninguém conhece. Quero experimentar outras sensações, que não a de morte, atrai-me mais a de vida. A de ver uns olhos arregalarem-se por eu chegar, a de sentir um odor de vontade por eu me despir, a de aceno de cabeça por uma afirmação minha, a de agradecimento por uma oferta benevolente. Isto são sensações boas, viciantes como as linha brancas para os drogados. O nosso erro está na escolha da droga, não está na forma de consumi-la. Os vícios são vícios porque se consomem em catadupa. Precisamos é de descobrir a droga do bom, a adição faz parte da nossa génese, não a podemos eliminar, temos é que encontrar a droga do bem, do bom. Mas o mundo está desnorteado. E eu não me importo de andar ao revés dele, na corda bamba do bem para o muito bem.

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Os sem-abrigo são perigosos?

Tudo alterca o orçamento de estado, as novidades da e para a Grécia, contudo ninguém se recorda do frio que faz. Das nuvens de gelo que descem, do calor que foge. Ninguém fala deste sol mentiroso, que alegra o dia mas não aquece o tempo.

Hoje, esta noite, certamente pessoas dormiram ao relento. Agasalhadas em caixas de cartão, embrulhadas em jornais de tempos passados, de notícias tristemente antigas. Pessoas com a barba por desfazer, com os dentes a calcinarem-se, com os dedos a ficarem laminados do frigido que os regela, com um sonho que morreu há muito. Há demasiado. São homens e mulheres, que normalmente já tiveram vida, quem sabe família. A droga, a maldita droga, afastou muitos disso, trouxe-os a reboque de uma dependência parva que alimenta guerrilhas sul-americanas e afegãs. Ninguém tem culpa de eles se terem agarrado, de se terem levado em bandeja aos poços de tráfico, todavia não deixa de me estorcer. Desacertos todos cometemos, pagá-los para a vida ou com a vida é que me liquefeita. Faz-me umas pontadas no coração, e pulo. É triste.

Verdade, estou farto de falar e não é por isso que me movimento noite adentro, pelo escuro de cidades grandes de mais, a levar-lhes um cobertor, um pão, ou um abraço. Um simples passou-bem, quem sabe. Não me sinto bem com isso, pois penso nisso. O Pessoa, aquele que para nós é eterno, já falava da felicidade da inconsciência, da alegria de desconhecer. Eu percebo-o, todos os percebem – inclusive os inconscientes. Quem sabe se eu não sou um inconsciente e já devesse andar esquinas afora a entregar carinho, e calor, e comida, e abnegação, a essas pessoas. Não temos como saber se eles e elas merecem, apenas podemos alcançar que, aquilo, ninguém merece. Ninguém devia merecer.

Não, não são assaltantes. Esses vestem fatos, ou, por outro lado, jorram armas em armazéns alugados e até compram carros tolos de velocidade. Os que roubam, que fazem perigo, não são estes que dormem ao frio. São outros, estes têm fome e necessidade, mas a arma perigosa está na ganância, na loucura desmedida pelo dinheiro. Isso é perigoso, faz borrar de medo.

Estes não, quem sabe uma família antiga, que ainda pertence à árvore da genealogia, lhes pudesse dar o que eles precisam e eles dariam um novo alento ao mundo. Soprariam um vento gélido, em dia de sol, como hoje, para nos acautelar para tantas coisas. Sabem, muitos deles não foi droga. Há os que o amor desiludiu, os que a família partiu, os que o negócio pequeno ruiu. Em cada um deles há uma coisa diferente, que não sabemos sem questionar. Se até os ladrões têm história, se até os criminosos se desculpam com as infâncias difíceis, porque que ninguém procura estas histórias?

No meu livro, o REALIDADES, que está ao fundo deste texto o link para adquirirem, tem um texto para falar de um deles. É um romantizar, sem o brilhantismo do Augusto Cury, em A Saga de um Pensador, mas que serve para mostrar que eu já pensava neles antes. Que são pessoas que não esqueço, porque me gela o coração com a mesma força que lhes prende as pernas. Gostava, mesmo, de saber a história deles.

Que acabe o estigma, eles não são maus, não são os ladrões. Podem, talvez, roubar uma outra peça de fruta, porém essas fomes não se condenam, chamam-se à atenção, tentam levar-se para outros rumos, mas não se condenam. Não se devem condenar. Os que roubam por mais haveres, por tecnologias de ponta, por sapatilhas de marca, por arrojes pornográficos de dinheiro, esses, sim, são perigosos. Esses, sim, devíamos ter asco de apertar a mão, de perguntar se passou bem, se a vida corre da feição.

Os sem-abrigo, não são perigosos, são o parente pobre de uma sociedade desentendida. Sociedade em que se sobrenomeia os ladrões e se roga dinheiro aos que desvivem de fome.

Os sem-abrigo são o povo, opiados pela desgraça; os tratantes são a governação, inebriados pela luxúria.

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Amigo é o caralho que o foda!

Quando sempre assumi o meu descontentamento pela eleição deste governo, pela pérfida postura do mandante Coelho, eles conseguem cada vez deixar-me mais a latejar.

Esses imbecis, sem escrúpulos, agora até conseguem pôr a troika contra eles. Esses otários de merda. O chefe de missão da troika em Portugal, Abebe Selassie, assume que estas medidas de austeridade não são ideias suas, nem de nenhum outro elemento da troika, são totalmente da responsabilidade do governo português. Diz inclusive que elas devem ser calibradas, de forma a não colocar em risco os mais pobres. E acrescenta ainda que só austeridade não resolverá os problemas de Portugal, pois matará a economia. Como todos nós temos dito, aliás. Ele acrescenta que o alargamento de um ano, para a redução do défice, se deveu a isso mesmo.

Eles não são santos, são agiotas, todavia nós conseguimos ter pior aqui. Conseguimos ter esta escumalha que apenas se alimenta de manter mais dois ou três anos de governação, que lhes dê o orçamento pessoal suficiente, para logo saltarem fora do barco e irem para uma poltrona assistir à decadência de um país, que supostamente deveria ser deles também. Esses filhos de uma grande puta, como uma senhora, que muito admiro, dizia em um dos seus textos.  Lamento qualquer associação que este tipo de linguagem possa ter a familiares, de tão desprezíveis seres.

Cada vez me sinto mais revoltado e enraivecido. Isto não é o país que eu quero para mim, não é o país que ninguém quer. Custa-me chamar democracia a um sítio onde milhões de pessoas estão a ser coagidas e maltratadas por meia-dúzia de incompetentes. Eles não são políticos, nem tampouco são entendidos no que quer que seja. São pessoas mal preparadas para desempenhar qualquer tipo de função, na nossa sociedade. Comparo-os aos concorrentes dos reality-shows, com a diferença de esses quererem fama e estes poder. Sendo que os primeiros apenas infligem dor aos que desejam vê-los no pequeno ecrã, conquanto os segundos criam fome, matam famílias e destroem esperanças, como se fossem luxos a que só eles têm direito.

Sinto-me no limite da esperança, das forças. Sinto-me revoltado como nunca fui, como nunca imaginei ser. Não suporto a ideia de trabalhar dia e noite para ser sempre um mísero pedinte. Estão a matar-me. E ainda me chama amigo? Amigo é o caralho que o foda.

 

PS – Não se esqueçam, caso tenham curiosidade de saber mais detalhes sobre o livro que lançarei, lá para meados de Novembro, basta clicarem neste sublinhado: Livro – Ricardo Alves Lopes (Ral)