Este governo faz-me mentir a mim mesmo!

Não escrevo política, não entendo maquiavelismo, não profiro economia, ou sugo finanças, mas sou português. Ai, isso sou. Não duvidem.

Não sou certamente um especialista, no que quer que seja, todavia a unanimidade em relação a este saque, que nos foi feito, deixa-nos, a todos, uma certeza: devemos contestar. Contestar muito. Apesar de nunca ter estudado, de fio a pavio, o nosso sistema político, sempre tive como uma certeza absoluta os descontos, para a Segurança Social, como o garantir da minha subsistência após o corpo deixar de ter forças para trabalhar. Afinal equivoquei-me, esse desconto serve para pagar despesas do estado, para enviar fundos de volta à troika. O tal experimentalismo social; o tal roubo; a tal inconstitucionalidade. Onde isto vai parar? Como dizia Miguel Sousa Tavares, receio que dentro de pouco tempo a nossa governação deixe de ver o pagamento de ordenados como um direito dos trabalhadores, que os obrigue a sentir que têm um luxo, quem sabe para ver em Belém a sua Meca, a quem deve míseros tostões que lhes permitem comprar dois pães para dividir por quatro filhos.

Como se pode dizer, à boca cheia, que esta medida defende as empresas? Defende, ou potencia, as de economias de escala. Essas sim. Que, por obra do acaso, são na sua maioria empresas do estado, com investidores estrangeiros. Ou seja, os tais, poucos, dividendos que se fala irão, por exemplo, para os accionistas chineses da EDP. Terão eles peso nisto? Já nem quero pensar nessa possibilidade. Repugna-me a ideia de sermos marionetas, fantoches dos que querem usurpar-nos tudo, engolir o nosso tutano. Por muito que a consciência me afirme que já o somos, esta governação tem o poder de, para além de nos mentir a nós, nos fazer mentir a nós próprios, ou de outra forma fecharmo-nos do mundo até ao momento que enfiaremos o revolver na boca e escrevermos a carta a desculparmo-nos a todos os que ficam.

As empresas não lucraram com isto, desde logo, pela certeza que só as exportadoras poderão vender mais. Quem pode construir, comprar, ou sequer viver, com o que agora é o nosso vencimento? Como eles podem achar que vão potenciar uma empresa de materiais para casa, quando estão a tirar as casas às pessoas? Como podem potenciar uma empresa do têxtil, se estão a tirar às pessoas a possibilidade de comprarem roupa? Exportação? Claro que sim, mas qual a absorção dos mercados estrangeiros? Falamos de casos de sucesso que já exportam 40% da produção, o que é sem dúvida meritório, mas e os 60 que faltam? Vão para o galheiro? É que esses 60 não vão ser vendidos cá, não há dinheiro para comprá-los.

Como já disse, como digo e como repetirei, não sou um especialista político, contudo sou um cidadão português, sem bóias nos braços, ou botes na mala do carro, o que me anuncia uma morte por afogamento. Tal o naufrágio em que se encontra este país.

O nosso “amigo” Passos Coelho é um adepto das redes sociais, como comprovou esta explicação pós chacina que fez, no entanto já é uma paixão antiga, já é fogo que arde bem visível desde o tempo da oposição. Aliás, quem tiver possibilidade que faça o exercício de visitar o twitter do nosso querido Primeiro, que verá que aquando do PEC4, ele anunciou, com um tweet visível, que não iria aceitar porque era um exagero de austeridade no nosso país. Concordo que as realidades se alteram, mas aqui existe uma que se mantém. A sede de poder, um tecnocratismo bacoco deste fedelho da política.

Apetece-me dizer, vai para o c… Não senhor ministro, não me feche o blogue, como prendeu aquele senhor que fotografou o carro mal estacionado ao serviço do Aguiar Branco, eu ia dizer para o Cazaquistão. Vá para o Cazaquistão e deixe Portugal a quem é a português. A quem consegue ver que nós não somos peões desse seu jogo de tabuleiro, por baixo de cada 7%, que tanto o orgulha, estarão crianças necessitadas, adultos a passar fome e a cabeça a fomentar ódio e raiva por quem teve o bafejo de sorte de se relacionar bem na juventude e chegar aos píncaros do país.

Para terminar deixa-me dizer que eu não sou um cifrão, ou euro, não sou verde, azul, ou vermelho, não me chamo, portanto, nota ou moeda. Sou o Ricardo, uma pessoa, veja se se lembra disso antes de começar a fazer experiências com as pessoas, como se elas fossem cobaias sem vida. Agora, passe bem, já que não deixa passar quem em si votou, ou quem ordeiramente teve que aceitar essa votação. Eu, da minha parte, estou farto.

 

PS – Não se esqueçam, caso tenham curiosidade de saber mais detalhes sobre o livro que lançarei, lá para meados de Novembro, basta clicarem neste sublinhado: Livro – Ricardo Alves Lopes (Ral)