O Porto (fora) do Instagram

O Porto (fora) do InstagramO mal dos nosso dias é a força com que pensamos, ao invés de sentirmos. Paramos a olhar uma paisagem e pensamos no quotidiano, pensamos há quanto tempo não estávamos ali no nosso Passeio das Virtudes, ou a mirar o nosso Porto desde a Serra do Pilar. Mas não sentimos. Não notamos o ar a entrar-nos pela respiração, em vez de apenas sair.

Vivemos uma agitação contínua que é comandada pela necessidade de desempenhar papéis. Temos que ser bons homens e mulheres, temos que ser bons profissionais, excelentes pais e mães, ainda melhores conselheiros e não podemos ser demasiado macios, nem contemplativos, ou corremos o risco de ser engolidos pela fervorosa onda de intrépidos conquistadores do quotidiano. Sobreviver não é difícil, é só ter capacidade de adaptabilidade, um certo jogo de cintura no pensamento, para agora sermos vorazes profissionais e a seguir melancólicos confidentes. Mas, no fim, não vivemos, porque queremos corresponder apenas ao que esperam de nós, ou ao que achamos que esperam de nós. E paramo-nos nos momentos, mas apenas para fotografá-los. De que me vale ir ao Douro, aos socalcos do vinho mais dourado do mundo, se não o fotografar, se os outros não souberem que lá estive?

E aí perdem-se as histórias. O Porto é para ser visto, mas é muito mais para ser vivido. Experimente parar-se nele, olhá-lo, viajá-lo em sensações e terá muito mais para contar que num filtro de Instragam.

Ricardo Alves Lopes (Ral)
Ricardo Alves Lopes – Marketing & Comunicação
www.ricardoalopes.com — com Ricardo Alves Lopes.

Texto escrita para a página de Facebook da Gbliss – Follow your Bliss