O amor da meia-noite

2013-12-29 15.28.59O amor é como o relógio que bate a meia-noite e explode, que rebenta a champanhe. Não podemos amar sem acreditar que aquele passar de hora vai mudar as nossas vidas.

Todos afirmamos que a passagem de ano é mais um marco comercial, uma simbologia pintada, do que propriamente uma oportunidade absoluta, ainda assim comemoramos e comemos as passas e sonhamos. O amor é igual. É sonho.

Eu sou um pedaço de sonho que necessita de ser trabalhado. Sei o quanto amo e o quanto sou imperfeito. Sei em igual medida, com a mesma certeza de que, de trinta e um para um, o relógio bate e o champanhe abre. Sou imperfeito há muito mais que um ano, mas cada vez que o coração bate e o relógio assente, sinto-me um novo eu, sinto uma nova trepidação do meu coração, semelhante a um carro num caminho de pedra antiga, de trilho granítico.

Sou o que sou, sem vergonha de ser o que sou. Mas sabendo sempre que o amor é um recomeço. O meu amor não é novo, mas vive. E viver implica mudar. E eu estou a mudar, como o meu amor está. Não serei um miúdo inconsequente para sempre, jogando melhor as palavras na folha que os actos no coração, serei também um crescimento de mim mesmo. Um amor com palavras doces, sem pesos de testamentos de igreja, mas com a firmeza de uma rocha que se move pelo movimento da terra, por muito que as mãos humanas não tenham força para a deslocar.

No cimo dos descobrimentos, pouso a minha mão na tua, olho os teus olhos e sei que vejo muito mais que um mundo, vejo muitos mundos. E sinto o ponteiro bater na meia-noite, a casa dos segredos terminar, o Berg cantar mais uma música, e as oportunidades renovarem-se.

O amor são oportunidades. O resto são paixões. E hoje é meia-noite, amanhã será meia-noite, e o dia um, frio da ressaca, jamais chegará, porque o amor são mudanças e oportunidades, são sonhos.

Ral

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