O meu velhinho Renault 5… Rfive!

Vermelho, cor da paixão. Sujo de cinza nos bancos, no tapete, no tablier. O único sítio que se salvava era o cinzeiro, não o do carro, mas o que apliquei entre a moca das mudanças e a consola do rádio, para assim que entrava poder atirar as chaves de casa, ou durante uma qualquer viagem lançar um isqueiro que deixou de funcionar, de fazer chama. Por norma, havia um fodasse a acompanhar esse gesto.

O que me irritava, hoje reflecte saudade. O rodar de chave não era o início das viagens matinais, era o puxar de ar. Isso sim era tecnologia. Essa alavanca aquecia o motor, não existia era forma de a sofagem aquecer o ambiente. O ar aquecia apenas com as janelas abertas no verão, com a música alta, ou com as viagens de inverno a Coimbra. Cinco pessoas a fumar no carro, janelas quase fechadas, folhas de papel a servir de cinzeiros nos bancos de trás, ultrapassagens pela direita, oh se aquecia. Lembro-me de numa dessas viagens o meu parceiro, o Rfive, me ter pregado uma partida. Não é que ele decidiu não abrir o meu vidro em plena portagem? Claro, os do carro da frente pararam para registar o momento em vídeo.

– Boa noite, Sr Brisa. Receba, por favor! Sou caloiro e estou a ser praxado, já viu a ideia deles? Obrigar-me a sair do carro para pagar e começarem a filmar-me – ganhei um amigo, fosse ele dono da portagem e nada teria pago!

Convém referir que ele era muito mais cúmplice que maroto! Lembro-me do dia que sai de casa e avisei os meus pais que iria para o Porto. Não fui, aliás fui, mas apenas de passagem com um amigo. Rapidamente decidimos ir para Espanha, Baiona. Sabem o que ele fez? Controlou, de forma heróica, os únicos 30€ que tínhamos para gasolina, transformou os seus bancos em camas para nos refastelarmos um pouco sobre manhã, mas sabem o que proporcionou de mais incrível? Inventou um problema no quadrante, conta-quilómetros, para irmos e virmos e ele marcar apenas 60 ou 70 km feitos! Como poderiam os meus pais descobrir mais uma das nossas aventuras? Eu confesso-vos: contei-lhes!

Lembro-me também de um amigo que mantenho desde a infância, que não é conhecido pela delicadeza das suas palavras. Daqueles que por vezes só apetece bater, estão a ver o estilo? Pois bem, um dia chegados de Aveiro, sobre a manhã, com um nevoeiro serrado, eu sentei-me ao leme, ele no lugar do passageiro e outro amigo no banco traseiro. Sabem o que o meu companheiro vermelho (Rfive) fez? Engatei a marcha atrás, ele achou melhor uma primeira, eu, qual estiloso, pousei o braço no lugar do passageiro, olhei para os fundos e acelerei, eis que ele bateu na parede que estava à frente. Resultado? Não se esmurrou, apenas o tal amigo em que dá vontade de bater foi contra o tablier. Isto certamente é cumplicidade!

Um amigo é também aquele que dá aconchego. Por isso, numa noite de verão, em pleno parque de estacionamento do Pacha de Ofir, o Rfive cedeu o seu ombro, amistoso, para eu e mais três amigos dormirmos. Este acto, tão nobre, enquanto uma moto 4 perseguia um tunning à sua volta e minutos depois de eu ter estado numa white-party com uma camisa preta. Já não se fazem amizades assim!

Podia falar-vos, ainda, do dia que com cinco pessoas no carro, em festa, ele decidiu calar a buzina, do dia que o meu telemóvel se avariou e ele decidiu rebentar o cabo da embraiagem e deixar-me isolado do mundo ou referir o dia em que pôs um amigo a correr atrás de um dos seus tampões em plena cidade, mas para isso teria que narrar muitas outras histórias. Foram 4 anos repletos de vivências.

Sabem onde, hoje, ele está? No jardim de minha casa… há amizades que são para a vida!

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